Componente de ‘airbags mortais’ ainda é usado em carros novos, inclusive no Brasil
Componente de ‘airbags mortais’ ainda é usado em carros novos, inclusive no Brasil
Ele não foi proibido, mas agora contém elemento para impedir que umidade cause explosão. Solução foi considerada provisória nos EUA, que exigirão trocar desses novos airbags até 2019; para Brasil, não há previsão.
Carros novos continuam sendo vendidos com airbags da Takata que contêm o “ingrediente” envolvido nas explosões ligadas a 16 mortes no exterior.
Mesmo tendo gerado o maior recall da história e multa bilionária à fabricante japonesa nos Estados Unidos, o defeito dos “airbags mortais” não fez com que esse tipo de substância em forma de pó, chamada nitrato de amônio, fosse proibida.
O que mudou de 2013, quando o problema foi anunciado, para cá é que agora os airbags da Takata feitos com nitrato de amônio possuem também um elemento secante, com a função de impedir a infiltração de umidade no interior da peça.
Sem a proteção, segundo estudos, a longa exposição ao calor e ao clima úmido contamina esses airbags, fazendo com que explodam e lancem estilhaços de metal contra os ocupantes, causando graves ferimentos ou até a morte. Ainda há cerca de 2 milhões de carros no Brasil sob risco.
O G1 procurou as 10 montadoras que realizaram recalls dos airbags da Takata no Brasil. Cinco confirmaram que ainda utilizam os equipamentos da companhia japonesa: Toyota, Honda, Nissan, Mitsubishi e Subaru. Todas disseram que eles contêm o elemento secante (veja mais abaixo).
A FCA, responsável por Fiat, Chrysler, Jeep e RAM, e a Volkswagen não enviaram resposta até a publicação da reportagem. A Audi e a General Motors, dona da Chevrolet, afirmaram que não responderiam aos questionamentos.
EUA exigirão troca
No mercado americano, a solução do agente secante nos airbags da Takata foi aceita como provisória. As fabricantes que substituirem os equipamentos defeituosos por outros com nitrato de amônio, mesmo protegidos da umidade, terão que trocar a peça até o final de 2019.
Isso fará o número de veículos envolvidos em recalls da Takata, que já passa de 30 milhões em todo o mundo, saltar para 70 milhões.
Isso porque o tempo foi considerado um item determinante para os acidentes registrados. Segundo a agência que regulamenta os transportes nos EUA, carros fabricados entre 2001 a 2003, com airbags defeituosos, têm 50% de chance de bolsa explodir durante colisão.
No Brasil, não há previsão de medida semelhante. Procurado pelo G1, o Ministério da Justiça, que regulamenta recalls, respondeu que só poderia se pronunciar sobre o assunto após o Denatran se posicionar “porque é o órgão que tem competência pela segurança veicular no Brasil”.
O Denatran informou que “tem acompanhado as discussões internacionais na questão dos airbags e do índice de efetividade do recall da Takata”, mas que, no Brasil, “não há discussões a respeito de novas regras para o equipamento de segurança”.
O que dizem as montadoras no Brasil
O G1 perguntou se as marcas que fizeram recalls dos “airbags mortais” ainda usam o equipamento da Takata e se eles agora contêm o agente secante.
Audi
Não respondeu.
BMW
Não confirmou se ainda utiliza airbags da Takata. A empresa disse que substituiu mais de 13 mil airbags da marca japonesa, fez teste nos equipamentos e que não houve ruptura naqueles insufladores. A marca também informou que, no desenvolvimento de seus futuros produtos, não irá utilizar o nitrato de amônio sem que haja elemento secante.
Chevrolet
Não respondeu.
Fiat / Chrysler / Jeep / RAM
Não respondeu.
Honda
Segunda marca com mais veículos chamados para conserto dos airbags, a Honda também continuam usando as bolsas da Takata, também com o nitrato de amônio e o elemento secante.
De acordo com a montadora, também há airbags de outros fornecedores – e estes utilizam o nitrato de guanidina para abrir as bolsas.
Mitsubishi
A marca disse que a maioria de seus veículos possuem airbags fornecidos pela Autoliv. “A Takata ainda fornece alguns modelos, porém já não utilizam o nitrato de amônia como insuflador”, disse a Mitsubishi, em nota.
Nissan
A Nissan informou que utiliza insufladores das marcas Takata, Daicel e Nippon Kayaku no Brasil. No caso da primeira, o elemento expansor é o nitrato de amônio, porém com o agente secante. Para as bolsas das outras companhias, o elemento responsável pelo insuflador é o nitrato de guanidina.
Subaru
A japonesa Subaru informou que os airbags dos modelos Legacy e Outback são fabricados pela Takata e contam com o agente secante para impedir infiltração nos insufladores, que possuem o nitrato de amônio.
Os modelos Forester, Impreza Sedan, WRX, WRX STI e XV utilizam airbags fornecidos pela Toyoda Gosei.
Toyota
A Toyota é a marca que tem mais unidades convocadas para recalls por esta falha. A fabricante afirmou que ainda utiliza os airbags da Takata, mas apenas na bolsa do passageiro do Corolla. Ele possui nitrato de amônio, porém com o elemento secante.
Nos demais airbags do Corolla (são 7 no total) e nos outros carros da marca, o equipamento agora é fornecido por outra fabricante, não informada pela montadora.
Volkswagen
Não respondeu.
Como acontece a falha
A longa exposição ao calor e à umidade é o principal agente no caso dos “airbags mortais”.
Segundo estudos da empresa aeroespacial Orbital ATK, os airbags da Takata não possuem uma substância capaz de reduzir a umidade, aumentando o risco da explosão após longa exposição ao calor ou a ambientes úmidos.
Além disso, a montagem do dispositivo permite que a umidade penetre no airbag e corrompa partes metálicas.
Com isso, a explosão do airbag acontece forte demais, quebrando a caixa de metal e atirando os pedaços contra os ocupantes, causando graves lesões e até a morte.
O artigo: Componente de ‘airbags mortais’ ainda é usado em carros novos, inclusive no Brasil, também pode ser encontrado no portal: IN Trânsito.